“Posso apenas fazer relatos, posso apenas “contar histórias”:
se essas histórias são ou não “verdadeiras” não é o problema.
O importante é se o que eu conto é a MINHA fábula, a MINHA verdade”. (Carl Jung)
É muito comum encontrar pessoas desesperadas por vídeos motivacionais sobre apresentação em público, fórmulas mágicas de persuasão e retórica para vender algo, quando elas poderiam se lembrar de fazer algo bem simples, mas que tem muito poder. Estamos falando do storytelling, a arte de encantar pessoas e vender ideias. Essa técnica usa uma arte milenar em sua estrutura: a contação de histórias. Sim. Aquelas histórias que os nossos avós nos contavam ao redor de uma fogueira encantam mais que as fórmulas ultra, mega, full, power do “aprenda a convencer as pessoas em 1 minuto”, “venda seu peixe em 30 segundos”.
Parece simplista falar sobre contar histórias e é mesmo, mas a ideia é ser minimalista, inspirador, cativante, e, por conseguinte, assertivo. Contar uma história não é difícil, mas requer atenção em alguns pontos importantes para o sucesso de qualquer narrativa, como, uma boa história, começo, meio e fim, bons personagens, entre outros, e com o storytelling não é diferente. Story tem a ver com a parte fictícia da história, já telling tem a ver com a parte técnica, os dados técnicos do produto ou serviço que quero vender. Mas lembre-se: a história pode ser fictícia, ou seja, não real, mas ela nunca pode ser mentirosa.
Storytelling então pode ser definido como “uma ferramenta de comunicação estruturada em uma sequência de acontecimentos que apelam a nossos sentidos e emoções”, conforme afirma Antonio Nuñez. Nesse sentido, além da ordem cronológica, o storyteller deve se ater ao personagem principal – o protagonista – e aos demais personagens, de modo que a trama que os envolve cause no ouvinte diversas emoções humanas, para gerar a sensação de identificação no ouvinte. Essa é a famosa catarse aristotélica, que marca o clímax de toda e qualquer história.
Mas quais são as vantagens de ser um storyteller? Os benefícios da arte de inspirar e conectar pessoas por meio de histórias são muitos, como, por exemplo, provocar em quem ouve sentimento de pertencimento e aceitação social, obter atenção de quem ouve, trazer informação de forma lúdica, provocar conexão mental e emocional, gerar sentimentos de prazer, felicidade, confiança, motivação, levar à reflexão sobre significado existencial e propósito de vida, eliminar a “adultização” e potencializar o uso da imaginação, reforçar valores, princípios e ideais, entre outros. Mas para aproveitar ao máximo todos os benefícios do storytelling é necessário seguir alguns passos para criar a história certa, e é isso que veremos a seguir.
Os 10 passos para criar a história certa
O primeiro passo para criar a história certa é definir seu herói. E o herói aqui sempre vai ser o seu cliente (no caso de histórias com fins comerciais ou publicitários) e nunca o seu produto ou serviço. E você vai entender o porquê mais abaixo. O próximo passo é definir uma meta (lembrando que meta é sempre smart, i.e, mensurável, alcançável etc). Qual é a meta do seu herói? O que ele deseja? Qual problema ele deseja ou precisa resolver? Outro passo importante é o problema. Se o herói precisa de algo e não tem significa que ele tem um problema que o impede de realizar tal objetivo. O que você pode oferecer a seu herói para levá-lo a alcançar a sua meta?
Já o quarto passo, não menos importante, é a figura do mentor. Agora é o momento de apresentar seu negócio, produto ou serviço para o herói, a fim de fazê-lo enxergar a necessidade daquilo, para resolver o seu problema. O quinto passo é a sequência da história. É preciso obedecer a cronologia: começo, meio e fim. Em seguida, temos o suspense. O suspense, por sua vez, é primordial para prender a atenção de quem vê ou ouve. É o que o motiva a continuar ali vendo ou escutando, é o que atiça a sua curiosidade sobre os fatos. O conflito é a parte da história que mistura coisas boas com coisas ruins, altos e baixos e faz com que a trama fique mais interessante.
Já a moral da história é a reflexão sobre os fatos contados até agora, sobre o percurso levado para chegar até o alcance do objetivo. A moral ou call-to-action mostra porque é importante usar os produtos ou serviços que você está vendendo. Já o penúltimo passo é o da verdade. É aqui que você apresenta o que a sua história tem de verdade, lembrando que ela pode ser fictícia (verossímil, como diria Aristóteles), mas ela nunca pode conter uma mentira. Mentiras afastam seu ouvinte e não geram conexões. O último passo para a sua história ser perfeita é a transformação. O seu herói passou por uma transformação? Qual? Em caso de objetivos comerciais, qual transformação o seu cliente vai atingir quando usar seu produto ou serviço?
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“Histórias são fontes de riqueza, sabedoria e criatividade”.
Uma história clássica sobre contação de histórias é a famosa “Sherazade e as mil e uma noites”, que narra a história de Sherazade, vendida como escrava para o rei da Pérsia e que para não morrer teve de contar histórias para ele durante mil e uma noites seguidas. As histórias deveriam ser interessantes para encantar o rei e não deixar ele a matar. As histórias contadas por ela são contos árabes como, Ali Babá e os quarenta ladrões, Alladin, Simbad etc, mas não se sabe quem estruturou a história de Sherazade. O que se sabe é que ela conseguiu encantar o rei e conseguiu viver. Histórias são fontes de riqueza, sabedoria e criatividade.
Assim, o storytelling é a forma mais simples e eficaz de inspirar, encantar, conectar e vender ideias e ideologias, produtos, serviços, imagem pessoal, comunicar algo, ensinar sobre algo, motivar pessoas e equipes num mesmo objetivo, porque histórias encantam. Não é preciso mais correr atrás dos gurus da retórica e da apresentação perfeita. Agora é a sua vez. É a vez da sua história, da sua “verdade”. Ao seguir todos os elementos ideais para uma boa história, você não só estará na hora certa, com a história certa, mas você será a pessoa certa. Vamos contar histórias?
Por Michele Souza